Sobre a desconstrução: teoria e crítica do pós-estruturalismo
De como se
tenta compreender a desconstrução, segundo Jonathan Culler

Aos estudantes de literatura
e teoria literária interessa mais sou poder de método de leitura e
interpretação que uma posição filosófica, uma estratégia política ou
intelectual. Segundo Derrida, “a desconstrução deve através de um duplo gesto,
uma dupla ciência, uma dupla escrita, pôr em prática a revisão da opção
clássica e uma substituição geral do sistema. O praticante da desconstrução
trabalha dentro dos termos do sistema, mas de modo a rompê-lo. Desconstruir um
discurso é mostrar como ele mina a filosofia que afirma, ou as oposições
hierárquicas em que se baseia. Um exemplo é a desconstrução nietzschiana de
causalidade”. Afirma Culler: “se o efeito é o que faz da causa uma causa, então
o efeito, não a causa, deveria ser tratado como origem”.
De como se compreende
as principais características e eixo de variação da crítica literária desconstrutiva,
segundo Culler
A discussão das implicações
da desconstrução para a crítica literária identificou uma série de possíveis
estratégias e preocupações. Uma vez que a crítica desconstrutiva é uma
exploração lógica textual em textos chamados literários, suas possibilidades
variam. A desconstrução é criada por repetições, desvios, desfigurações. Ela
emerge dos escritos de Derrida e de Man apenas pela força da iteração:
imitação, citação, distorção, paródia. Ela persiste não como unívoco conjunto
de instruções, mas como séries de diferenças que podem ser projetadas sobre
vários eixos, tais como o grau em que a obra analisada é tratada como unidade,
o papel acordado a leituras anteriores do texto, o interesse em procurar
ligações entre significantes e a fonte das categorias metalingüísticas
empregadas na análise. A vivacidade de qualquer empreitada intelectual depende
das diferenças que tornam possíveis as argumentações, enquanto impedem qualquer
distinção entre o que está dentro e o que está de fora dessa empreitada.
O segundo aspecto da
desconstrução é uma suspeita da vontade dos críticos de celebrar a ambig6uidade
como uma riqueza estética. As leituras desconstrutivas podem se recusar a fazer
da riqueza estética um objetivo. A crítica desconstrutiva nunca pode alcançar
conclusões definitivas, pois consiste na busca de diferenças. Mas pára quando
não pode mais identificar e desmantelar as diferenças que agem para desmantelar
outras diferenças.

Para de Man, uma
desconstrução sempre tem como alvo revelar a existência de articulações e
fragmentações ocultas dentro de totalidades assumidamente monódicas.
Um dos principais efeitos da
Crítica Desconstrutiva tem sido romper o esquema histórico que contrasta a
literatura romântica com a pós-romântica e vê esta como uma sofisticada ou irônica
desmistificação dos excessos e enganos da primeira. As leituras desconstrutivas
caracteristicamente desfazem os esquemas narrativos, focalizando, em vez disso,
diferenças internas, Também se ocupam das simplificações efetuadas por decisões
sobre a referencialidade.
A crítica desconstrutiva pode
analisar uma obra como leitura de outra, buscando a lógica de um significante
ou complexo significante à medida que se desloca através de uma variedade de
obras, ou usando as estruturas de uma obra para revelar uma energia radical em
passagens aparentemente asfixiantes de uma outra.
A tarefa do crítico é
identificar um ato de desconstrução que, em cada caso diferentemente, já foi
sempre realizado pelo texto sobre si mesmo. As leituras anteriores e as
leituras desconstrutivas enfocam os sentidos e as operações que aguardam ali,
em tensa coexistência, atos de identificação que as trarão à luz. No entanto, o
modo como leituras anteriores são situadas por ensaios desconstrutivos varia de
forma considerável. As leituras desconstrutivas são inclinadas a achar afirmações
não sobre o que pode acontecer ou freqüentemente acontece, mas sim sobre o que
deve acontecer.
Em vários casos, crítica e
obra argumentam bem pelas verdades derivadas da obra; eles às vezes explicam a
natureza da necessidade que faz a verdade valer para toda linguagem, todos os
atos da fala, todas as paixões, todas as cognições. Em outros casos, como nos
diz de Man, não se pode nem mesmo imaginar como o crítico poderia argumentar
pela verdade em questão, como declaração de que nada segue ou existe em outra
parte; e se é levado a suspeitar que uma certa fé no texto e na verdade de suas
implicações mais fundamentais e surpreendentes é a cegueira que possibilita as
percepções da crítica desconstrutiva, ou a necessidade metodológica que não
pode ser justificada, mas que é tolerada pela força de sus resultados. O papel
estratégico desse compromisso com a verdade do texto, quando exaustivamente
lido, sem dúvida ajuda a explicar por que a crítica desconstrutiva americana se
concentrou nos principais autores do cânone: se tal análise pressupõe que a
verdade irá emergir de uma leitura vigorosa, será mais fácil defender esse
ponto de vista lendo Rousseau, Melville ou Mallarmé do que lendo autores não-canônicos.
Concluindo, não se deve
entender a crítica desconstrutiva como mera celebração da livre associação dos
leitores e eliminação do sentido e da referencialidade. Basta examinar uns
poucos dos muitos exemplos da crítica desconstrutiva. Alguns críticos que
pensam dessa maneira revelam em seus trabalhos uma defesa contra as afirmações
sobre a linguagem e sobre o mundo.
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